domingo, 23 de janeiro de 2011

O Corpo Os Corpos



O teu corpo         O meu corpo       E em vez dos corpos
que somados seriam nossos corpos
implantam-se no espaço novos corpos
ora mais ora menos que dois corpos

Que escorpião de súbito estes corpos
quando um espelho reflecte os nossos corpos
e num só corpo feitos os dois corpos
ao mesmo tempo somos quatro corpos

Não indagues agora se o meu corpo
se contenta só corpo no teu corpo
ou se busca atingir todos os corpos

que no fundo residem num só corpo
Mas indaga sem pausa além do corpo
o finito infinito destes corpos 
 
David Mourão-Ferreira

sábado, 15 de janeiro de 2011

The Laughing Heart


your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you. 

Charles Bukowski

Alma - A musa dos génios

Alma Mahler, vienense, nascida a 1879, envolveu-se com os espíritos mais criativos do século XX. Ficou conhecida como a Viúva das 4 Artes: Música, Pintura, Arquitectura e Literatura. Gustav Klimt, roubou-lhe o primeiro beijo; contraiu matrimónio com o compositor Gustav Mahler, traindo-o com Walter Gropius e Oscar Kokoschka. Chegou mesmo a casar-se, anos mais tarde, com Gropius e com o poeta Franz Werfel.



O relacionamento com Oscar Kokoschka foi, talvez, o mais perturbador de todos. Quando se deu a separação, para atenuar as dores da perda da sua amante e amada, o pintor estava tão apaixonado por Alma que mandou fabricar uma 'apetitosa' boneca em tamanho real, que reproduzia os mais ínfimos detalhes da sua anatomia. Terá dado indicações à fabricante de marionetas, através de uma carta acompanhada de vários desenhos, onde incluía quais as rugas da pele da sua amada, que ele achava absolutamente necessárias. E, assim, longe de esconder a sua grande paixão, Kokoschka, passeava a sua Alma/ boneca, pela cidade, levando-a ao teatro; e, quando por alguma razão tal não era possível, confiava-a aos cuidados de uma empregada que contratou expressamente para o efeito. Não foi preciso muito tempo para que o pintor começasse a sentir uma enorme decepção: a boneca dificilmente poderia satisfazer os seus desejos eróticos e sexuais, e no final tornou-se tão só numa espécie de natureza-morta modelo. Farto dela, num momento de embriaguês, degolou a boneca, partindo-lhe uma garrafa de vinho tinto sobre a sua cabeça. Desabafou, na altura, estar completamente curado da paixão.




domingo, 2 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

Devias estar aqui rente aos meus lábios

 Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.

Eugénio de Andrade

Renoir- Young Girl Sleeping

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pedras Pisa-Papéis

Por Rute Saraiva

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita. 

Carlos Drummod de Andrade


MARGEM
© Por Rute Saraiva

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Como Nossos Pais



Canção escrita pelo cantor/compositor brasileiro Belchior, em 1976.
Interpretada por Eles Regina.

O Bruto

O bruto foi uma das figuras mais glosadas pelos caricaturistas do tempo de Renoir. Bruto é o rico que diz e pensa: "Que mal faz se eu pisar estas flores? Fui eu que as paguei!" É o pobre que rouba o papel nos sanitários dos comboios. "Quem vier a seguir que se f...!" O bruto serve-se de uvas arrancando os bagos do cacho sem o tirar da fruteira. O bruto faz barulho enquanto os dormem, fumam enquanto os outros tossem, cospe nas poças de água e seduz uma mulher mesmo sabendo-se portador de doença venérea. O director de teatro que envenena o seu público com pornografia ou com incitamento ao crime é um bruto. Para o meu pai, o especulador que abatia as árvores de um pomar das margens do Sena para construir um imóvel de cimento armado era um bruto, como um bruto é o imbecil que desflora uma rapariguinha crédula. Outro exemplo que impressionava o meu pai era o seguinte: antigamente, nos grandes cafés, o criado deixava a garrafa de aperitivo na mesa do cliente, confiando na parcimónia deste. As hordas de visitantes de Exposição de 1900 não eram exclusivamente constituídas por cavalheiros e os visitantes mal-educados aproveitavam a confiança neles depositada para se servirem até ao cimo das copos, já que o preço era o mesmo. Resultado: agora, o criado serve-nos com parcimónia e leva a garrafa, o que é um insulto. A uma bruteza responde-se com outra, e o mal alastra como uma epidemia!

Jean Renoir , in "Pierre-Auguste Renoir, meu pai"


sábado, 11 de dezembro de 2010

Oscar Wilde a propósito de Turner


"Antes dele, não havia nevoeiro em Londres."

Norham Castle Sunrise, Joseph Mallord William Turner