O bruto foi uma das figuras mais glosadas pelos caricaturistas do tempo de Renoir. Bruto é o rico que diz e pensa: "Que mal faz se eu pisar estas flores? Fui eu que as paguei!" É o pobre que rouba o papel nos sanitários dos comboios. "Quem vier a seguir que se f...!" O bruto serve-se de uvas arrancando os bagos do cacho sem o tirar da fruteira. O bruto faz barulho enquanto os dormem, fumam enquanto os outros tossem, cospe nas poças de água e seduz uma mulher mesmo sabendo-se portador de doença venérea. O director de teatro que envenena o seu público com pornografia ou com incitamento ao crime é um bruto. Para o meu pai, o especulador que abatia as árvores de um pomar das margens do Sena para construir um imóvel de cimento armado era um bruto, como um bruto é o imbecil que desflora uma rapariguinha crédula. Outro exemplo que impressionava o meu pai era o seguinte: antigamente, nos grandes cafés, o criado deixava a garrafa de aperitivo na mesa do cliente, confiando na parcimónia deste. As hordas de visitantes de Exposição de 1900 não eram exclusivamente constituídas por cavalheiros e os visitantes mal-educados aproveitavam a confiança neles depositada para se servirem até ao cimo das copos, já que o preço era o mesmo. Resultado: agora, o criado serve-nos com parcimónia e leva a garrafa, o que é um insulto. A uma bruteza responde-se com outra, e o mal alastra como uma epidemia!
Jean Renoir , in "Pierre-Auguste Renoir, meu pai"
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